Aceite a vida como ela é…

…e não como você gostaria que fosse. 

1. Ninguém me entende

Má notícia: talvez ninguém te entenda mesmo e se você ficar esperando para que sua família te entenda, seus amigos te entendam ou seu parceiro te entenda, é provável que sua vida seja para sempre frustrante. Boa notícia: para ser feliz não é necessário ser entendido, não é necessária a aprovação de ninguém, só a sua! Também não é preciso revoltar-se quando não te entendem. Ser entendido e ouvido é muito bom, mas se você não tem isso na sua vida, vai aprender que “não ser entendido”pode ser bem legal.  Como assim? É isso mesmo! Gente, vamos pensar juntos. Um exemplo: a maioria das pessoas não se preocupa com o meio ambiente, e vocês acham então que “todo mundo” está certo em não dar a minima para o próprio planeta? Loucos são aqueles que reciclam o próprio lixo e não jogam nem um palito de dente na rua? Pessoas não se entendem desde que o mundo é mundo. Não espere ser entendido para viver bem com você mesmo. Não tente convencer ninguém de que você tem razão. Você não precisa disso! Aprenda a respeitar a sua opinião ainda que ninguém concorde com ela.

2. Mas é tão difícil…

A vida é difícil. Não se prenda a fantasias de que todos são felizes e normais, menos você. Não se prenda à fantasia de que todos são bonitos, saudáveis, bem-humorados e bem-sucedidos, menos você. Esqueça a “vida perfeita”, ela não existe, pra ninguém! Tente ter a melhor vida que você possa ter, acredite, isso é mais que suficiente. Deixe a ilusão de perfeição de corpo e mente para as revistas de beleza. Você é real! O que você quer fazer e o que você gosta de fazer é a melhor vida que você terá. E se você ainda não sabe o que quer fazer ou o que gosta de fazer, tente descobrir e talvez o processo de descoberta seja mais importante que a descoberta em si.

3. Não agüento mais

Provavelmente o que você não agüenta mais não é a vida em si e sim lutar todos os dias contra um ideal de vida que você mesmo criou e que será impossível de alcançá-lo, simplesmente porque não existe esse ideal, pra ninguém.  Esqueça o fácil, não é fácil pra ninguém. Para algumas pessoas pode ser ainda mais difícil e a vitória ai é tentar, todos os dias. Perder é necessário e continuar tentando também.

Dói, dói muito às vezes, mas você deve aceitar a dor para depois tentar entendê-la.

4. Não sei mais o que fazer

Se você está esperando que eu diga: “Vá ver a natureza” você está enganado. O que eu quero dizer para você é: “Faça o que sua mente/corpo te pede sem se auto-destruir”. Se você quer ficar em casa chorando, fique, mas sem culpa! Quer ver 10 horas de televisão, veja! Mas sem culpa! Faça o que você tem vontade de fazer e se você não tem vontade de fazer nada, não faça. Só respeite o seu desejo e seja mais compreensível consigo mesmo.

5. Descobri que tenho TPB e estou com medo

Os seus sentimentos e emoções não vão piorar porque você descobriu que existe um nome para o que você sente.  É só um nome e não muda quem você é.

6. Eu me odeio

O que você odeia em você? Seu corpo? Sua personalidade? Sua falta de personalidade? Pessoas normais tem celulite, estrias, flacidez e barriga. Eu ganhei 4 kg esse ano e estava surtando com isso. Mas depois me dei conta que ganhei um ano  cheio de comidas deliciosas! Não me privei de nada! Aqui na Argentina provei sorvetes deliciosos, comi massas espetaculares, vinhos, carnes! Sinceramente foi muito mais divertido viver assim do que passando fome e vontade.  Então eu entendi que o tempo passa, o corpo muda e eu não tenho que me adequar a roupas que já não me servem e sim comprar outras que em nesse momento da minha vida ficarão lindas em mim. Você quer ser aceito, mas… por quem? Ninguém ama outra pessoa pelo corpo que tem e há mais beleza no natural do que você possa imaginar.

Quanto aos seus erros, tente se perdoar, e eu digo isso seriamente! Se perdoar é o primeiro passo para poder conseguir vencer o TPB. Aceite e entenda que você não consegue controlar as emoções como a maioria e que a maioria não é melhor que você por isso. Eu entendi depois de muito tempo que às vezes eu vou sair do controle, não tem jeito. E eu fui buscar pessoas que me aceitam assim. E acredite, existem pessoas que aceitarão você com suas limitações. Mas antes é preciso se amar e tentar todos os dias. Eu tento, todos os dias, e sinceramente não sei se vou conseguir algum dia NUNCA MAIS me descontrolar. Mas nesse tentar todos os dias evitei magoar pessoas que amo e principalmente evito, quase sempre, fazer mal a mim mesma. Só tente, nada mais.

7. Porque eu sou assim?

Eu poderia explicar aqui as questões genéticas, ambientais, os traumas e etc e tal. Mas se você tem o TPB, tente ver por outro ângulo. As pessoas normalmente não aceitam a vida que tem, sempre querem mais disso, menos daquilo. A sua dor provavelmente será muito menor se você aprender a conviver com as suas limitações (e lembre-se, todos seres humanos possuem limitações) e ver o lado bom disso tudo. Borderlines são mais intensos, apaixonados, sedutores, empáticos! Sim, são empáticos, porque sabemos como é terrível sentir vazio, dor emocional e sentimos empatia pelas pessoas que se sentem tristes, vazias. Outra coisa legal é poder olhar para o outro, para a dor do outro. Eu achava que ninguém sofria como eu e talvez a maioria não sofra tanto mesmo no dia a dia. Mas elas também sofrem! E eu percebi que quando estava muito muito mal não podia ver a dor do outro de tão absorvida que estava na minha própria dor. E ao mesmo tempo comecei a me sentir mais forte que qualquer pessoa porque eu estava aprendendo a sobreviver todos os  com uma dor quase insuportável.  E ai a sobrevivência, aos poucos, se tornou vivência. A dor insuportavél foi embora, ficou a minha ansiedade e minha fobia social. Ok, eu aceito que todos os dias é uma luta pra sair de casa, mas ao mesmo tempo é uma chance que eu tenho de vencer todos os dias, porque eu saio de casa todos os dias, ando nas ruas, tomo o ônibus, saio pra me divertir, caminho por ai e ninguém sabe o quanto foi difícil enfrentar os olhares dos transeuntes. Mas eu sei e sei também que enfrentei o meu problema, aceitei o meu problema e isso já me faz feliz. Pra que ser normal se você pode ser você? Eu pareço normal para as pessoas, mas eu sei que há algo em mim que é especial, uma força que me empurra para frente. E essa força sou eu, essa força é você, somos nós. Pare de brigar com você, faça as pazes com os seus erros, com os seus defeitos, com os seus medos. Aceite-os e você saberá o que fazer.

Um abraço grande para todos!

Bruna.

14 respostas em “Aceite a vida como ela é…

  1. O que vc. escreve serve para qualquer um de nós: bordelines ou não.
    Tenho acompanhado suas postagens na tentativa de entender mais minha única irmã de quem gosto muito. Obrigada ! Eliene

  2. Olá meninas!
    Excelente texto, Bruna!
    É meio como um tapa na cara e ao mesmo tempo confortante!
    Este fim de semana li um livro chamado “O Beijo na Realidade”, que fala justamento que devemos aceitar a nossa realidade ao invés de negá-la, resignar-se ou tentar fugir.
    Entretanto, sei o quanto é difícil para alguém que está em depressão ouvir coisas do tipo aceite sua dor, abrace sua realidade ou até mesmo reaja…
    Mesmo porque é a depressão que está ali dominando, não é o nosso verdadeiro eu.
    Assim temos que ter consciência, primeiro, que a depressão é uma doença e que tem cura!
    Enquanto ela estiver ali, reinando, vai ser tudo mais difícil.
    Mas, não podemos nos identificar com ela, não podemos aceitá-la como parte de nós. Não!
    Temos que superá-la, tratá-la, para aí sim nos descobrirmos, nos conhecermos e nos aceitarmos!
    Por isso gostaria de ressaltar mais uma vez a importância de tratar a depressão, de ter o acompanhamento de um bom psiquiatra, de tomar os remédios regularmente e ter alguém de confiança com quem possamos contar nessa luta.
    Eliene, a ajuda dos parentes é muito importante, porque muitas vezes as pessoas com depressão relutam em tomar o remédio, não acreditam que isso possa ajudar e acham que a depressão é parte de sua personalidade e sempre fará parte de suas vidas.

    Compartilho com vocês alguns trechos do livro que mencionei.
    Bjos, meninas e força!

    “Há duas maneiras de lidar com a realidade: beijá-la ou negá-la. Infelizmente, a maioria das pessoas escolhe a última alternativa. Elas negam sua realidade porque não gostam dela. Tentam escondê-la dos outros e de si mesmas.
    (…)
    Em todo lugar, muitos de nós tentamos ignorar ou negar a relidade que nos desagrada. E, porque as coisas não são como gostaríamos, entram em cena a angústia, a depressão, o desânimo, a preguiça. ficamos à espera de que algo aconteça, que forças sobtrenaturais mudem nosso destino.
    (…)
    O problema de algumas pessoas é viver com a idéia de que basta esperar que um dia as coisas podem mudar. Mas isso é ilusão.
    (…)
    A não aceitação da realidade nos faz procurar um substituto para ela. É aí que começamos a nos iludir. Passamos a acreditar que nossa felicidade está em outro lugar, em outra pessoa, em outra família, outro emprego, outro nome, outro bairro, outro país, outro planeta. Queremos nascer de novo, ser outras pessoas.
    (…)
    Assumir a responsabilidade é entender que qualquer mudança em sua vida depende exclusivamente de você. (…) É reconhecer suas competências e usá-las, reconhecer suas incompetências e trabalhá-las. É pôr a mão na massa para criar uma nova realidade.
    Quando assumimos a responsabilidade, deixamos simplesmente de representar um papel para encarnar o nosso verdadeiro papel. E, sendo nós mesmos, construir nossa história.
    (…)
    o que você está fazendo com a sua vida? Já tomou seu choque de realidade? Ou será que continua tocando as coisas no ritmo de sempre e fazendo um trabalho que “dá prara o gasto”? Será que vive insatisfeito, mas em compensação imagina que não precisará ser mais, saber mais, estudar mais, trabalhar mais, assumir a responsabilidade?
    (…)
    A vida, porém, não é negar o que nos cerca, é mergulhar nisso tudo e aprender.”

    (José Luiz Tejon)

  3. Perfeito!!

    é assim que tem que ser !

    tem gente que nao aceita a vida como ela é.. vive duvidando, colocando obstaculos!!!

    ora, a vida é uma só!!!!

    faça acontecer!

    ficar lamentando, achar que vira um principe encantado num cavalo branco hahahahahaha

    pare.

  4. É muito bacana sim. Contudo, ainda é tudo muito difícil quando não se descobriu profissionais que falem sobre esse problema, tua vida pessoal está indo por água abaixo, você não consegue andar com as próprias pernas num estado que não é o seu, vivendo com outra pessoa, e sua relação amorosa despenca por causa de seus problemas que parecem se tornar a cada ano de vida maiores e mais assustadores. Já tive crise de ansiedade de ter excesso de energia nas pernas e querer me jogar da janela só para nunca mais sentí-las. Já comi frango e sem nenhum motivo aparente parecia que não sabia do que se tratava ou o que eu fazia ali. Por vezes, o vazio é tão grande que a tristeza nem é tanto a dor que eu sinto, mas mais a incapacidade de ser preenchida, contagiada. E, o engraçado, é que apesar desse vazio me sinto deprimida e frágil o bastante para ter medo a cada novo trabalho, e acabar não permanecendo mais que um mês em cada um deles. Tenho o mesmo medo que tinha dos pátios de colégio. No fim do ano passado, fui parar na UTI, por excesso de medicação. Lá me senti cuidada. Gostava de sentir a presença feminina/maternal das enfermeiras. Gostaria de viver num mundo onde as pessoas, especialmente as mulheres fossem mais amigas umas das outras. Sinto que todas as moças carregam consigo, de certa forma, a mãe que tiveram, e que eu não carrego nada, simplesmente não tenho um liame que me una ao meu passado. Às vezes queria abraçar a criança que fui aos oito anos, que era meiga, cheia de fé e força, mas ela me parece inatingível à pessoa que sou hoje. Os psiquiatras que encontrei e encontro, olham do auge de suas poses búdicas enquanto escutam o mesmo roteirinho de sempre, e depois prescrevem remédios para caso de instabilidade de humor, e para por aí até o próximo mês com o mesmo repertório.

  5. Bruna, não posso deixar de dizer o quanto aprendi com você, seus posts e seus vídeos. Você me proporcionou uma grande melhoria de comportamento e convivência social.
    Sinto falta dos seus textos, há tempo não escreve mais!
    Volta pra gente. rs

    • O,brigado Veronika seu trabalho e muito importante, tambm sou borderline leve. Escreva quando quiser sou enfermeira e administradora de empresa, porm no exero porque estou indertidada, a minha famlia ficou com medo do custo do tratamento e me indertidou antes que minha me moresse,,,,,Fique com Deus

      Em 19 de outubro de 2012 11:41, Transtorno de Personalidade Borderline escreveu:

      > ** > DSouza comentou: “Bruna, no posso deixar de dizer o quanto aprendi com > voc, seus posts e seus vdeos. Voc me proporcionou uma grande melhoria de > comportamento e convivncia social. Sinto falta dos seus textos, h tempo > no escreve mais! Volta pra gente. rs” >

      • É muito legal que haja pessoas nesse mundo que através da dor pela qual passaram, trazem aos demais uma centelha de luz em suas consciências. Que isso lhe ajude ainda mais em sua caminhada Bruna. Que a humildade, aprendizado na solidão e perseverança lhe ajudem a ser sua verdadeira companheira nessa jornada, e que os outros com quem cruzares sejam pessoas às quais possa doar, receber, passar incólume, ou reafirmar seu aprendizado de superação de experiências dolorosas.

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